Um leitor anônimo deste blog em espanhol me alertou por meio de um comentário no post El tránsito de Venus del 6 de junio de 2012, que o professor Jesús Galindo Trejo do Instituto de Astronomía da Universidad Nacional Autónoma de México, depois de analisar afrescos de um templo da cidade de Mayapán especula que os maias observaram trânsitos de Vênus. Este fato poderia abrir as portas para a interpretação dos profetas de 2012 de que o calendário maia da Contagem Longa, está sincronisado para coincidir seu final con um trânsito de Vênus que acontecerá em 6 de junho próximo.
Não foi difícil encontrar o trabalho de Trejo publicado no Número XXIX da revista Estudios de Cultura Maya: Un análisis arqueoastronómico del edificio Q152 de Mayapán. Vou resumir os aspectos que me interessan aqui.
Prédio Q152, também chamado de Observatório. Mayapán, Mérida (México) |
A cidade de Mayapán, última grande orbe maia, pertence ao período posclássico (aqui uma breve descrição da história maia precolombiana). Teve seu apogéu entre 1200 e 1450 e um declínio dramático, produto de revoltas populares apoiadas por grupos armados provenientes de México central. Conta com importantes edificações, entre elas um templo circular que recebeu o arqueológico nome de Q152 (as vezes referido como o observatório) e uma pirámide chamada o castelo. Recentemente num pequeno prédio junto ao castelo foram achados e restaurados uns afrescos que são iluminados pelo sol en dois dias precisos do ano. Uma das imagens representa o sol amarelo com grandes raios, escoltado por dois personagens com umas espécies de lanças; e dentro do disco solar há um personagem ricamente ataviado em aparente descenso. Segundo Galindo Trejo, os dias em que o sol ilumina o afresco serviriam como marcadores que permitem fazer uma aritmética simples para contabilizar o período sinódico de Vênus, de 584 dias, tempo que demora em dar uma volta em torno ao Sol observado desde a Terra. Tamanha importância dada ao ano de Vênus, leva ao autor a reflexionar se o personagem dentro do disco solar não se trataria de uma representação dos trânsitos do planeta, tornando o afresco numa evidência do conhecimento astronômico maia.
Pirámide de Mayapán (o castelo) |
Observar tránsitos de Vênus é complicado porque projetado sobre o disco solar, o planeta é 30 vezes menor. No entanto é possível se se atenua de alguma forma a intensa luz solar. Uma condição natural é com o Sol próximo do horizonte ocultado por um véu de nuvens ou por fumaça. Os maias estavam numa posição geográfica privilegiada: dos 40 trânsitos de Vênus que aconteceram entre o ano 2000 AC e 1500 DC (conquista espanhola) eu calculei que poderiam ter observado 36 (Usei a seguinte tabela criada pela NASA, e as fórmulas daqui). Os trânsitos de Vênus são fenômenos bastante prolongados, que duram aproximadamente 7 horas e que ocorrem com pouca dispersão calendárica: entre o 19 e 23 de maio, e entre o 20 e 23 de novembro quando é considerado o lapso correspondente à antigüidade maia. Nem todo ano tem tránsito de Vênus, no entanto. As regras que os regem não são simples e exigem séculos de observações ou um conhecimento bastante avançado da astronomia planetária.
Tamanhos relativos do disco solar (círculo amarelo) e Vênus (círculo azul claro). A diferença de tamanho e o intenso brilho solar dificultam a observação sem instrumentos de um trânsito de Vênus. |
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