sábado, 31 de diciembre de 2011

O trânsito de Vênus em 2012

Em 6 de junho de 2012 o planeta Vênus ficará alinhado com o Sol de forma tal que o eclipsará. Eclipsar é um eufemismo neste caso porque o tamanho de Vênus é tão pequeno (aproximadamente 30 vezes menor), comparado com o disco solar, que a olho nu não perceberemos nada, menos  de um 0,1% será a diminução do brilho solar. Por esse motivo chamamos a este tipo de eclipses de trânsitos. O fenômeno durará aproximadamente 7 horas. (Ver no seguinte gráfico) Nem todo mundo poderá vê-lo, en alguns casos por causa do horário e em outros porque o alinhamento não será o adequado.  Neste link podem ver um mapa da Terra com as áreas onde o trânsito será visível.

Os trânsitos de Vênus são bem conhecidos e têm um período variável embora previsível: a um intervalo de 8 anos segue-se outro de 121,5 anos, posteriormente acontece um trânsito 8 anos mais tarde para voltar a acontecer 105,5 anos depois. Ou seja que o próximo trânsito de Vênus será em 11 de dezembro de 2117.  E os anteriores aconteceram nos anos (do último para o primeiro): 2004, 1882, 1874, 1769, 1761, 1639 e 1631. Paramos a análise em 1631 porque foi o primeiro da era telescópica da astronomia (lembrem  que o telescópio foi inventado em torno de 1600 mais ou menos).

Qual é a importância científica de um trânsito de Vênus?  Edmund Halley, descobridor do cometa que leva seu nome, percebeu que por meio dele é posível medir com grande precisão a distância Terra - Sol, parâmetro que define a escala do Sistema Solar.  Por problemas técnicos, Halley nunca atingiu a precisão que pode se conseguir com o método, e só em 1761 e 1769 houve sucesso.  

Em alguns sites sobre as profecias de 2012 faz-se referência a este evento (ver por exemplo a página de Eden Sky).  Sua importância deriva, dentre outros motivos,  do fato de que o início da Contagem Longa do Calendário Maia é chamado de Nascimiento de Vênus (segundo Eden Sky). Nada melhor que terminar a sequência com um trânsito, pensa a profetiça. Não sei qual tipo de nascimiento é este, mas seguramente não foi um trânsito: levando a sequência para  atrás a partir do ano 2012, vemos que houve trânsitos em 3221 AC e em  3100 AC. A Contagem Longa, segundo Eden Sky e outros profetas de 2012  começou em 11 de agosto de 3114 AC. 

Fora o  plano simbólico que lhe atribuem a este trânsito, minha impressõa é que é mera coincidência acontecer justo no ano em que alguns autores afirmam que a Contagem Longa maia chegará a 13.0.0.0.0 (13 Ba'ktuns) e a numeração voltará a começar de zero.

Penso assim porque não encontrei em nenhum estudo sobre os conhecimentos astronômicos maias alguma referência a observações de trânsitos de Vênus.   É verdade que sua órbita fica dividida em dois trajetos de 263 días com  intervalos de 8 e 50 dias entre eles (ver figura abaixo).  Segundo alguns arqueólogos estes ciclos seriam a origem do Calendário Tzolkin maia.  Durante o período de 8 dias Vênus passa frente ao Sol, as vezes por cima, as vezes por baixo, por esse motivo a passagem nem sempre produz um trânsito.  É semelhante ao que acontece durante a Lua Nova: apesar que tem uma a cada 30 dias aproximadamente, só duas ou três vezes por ano acontece um eclipse de Sol que é  quando a Lua fica exactamente sobre o disco solar. Em outras palabras, o fato que os maias conheceram o ciclo anual de Vênus, não significa que conhecessem também que o planeta, as vezes, passa pela frente do Sol.  

Diagrama que mostra a órbita de Vênus (bolinha cinza) vista desde a Terra (bolinha azul), o Sol é o círculo amarelo no centro. Entre os dois períodos de 263 dias em que o planeta é visível, tem un período de 50 e outro 8 dias de invisibilidade. No último, Vênus passa na frente do Sol.




Por muito que os profetas se empenhen, muitos eventos que acontecerão em 2012 serão pura coincidência e dificilmente tenham qualquer relação com os maias e sua cultura.

martes, 27 de diciembre de 2011

Os Maias anunciaram o Fim do Mundo

Antes de continuar com a leitura,  é bom dizer que a profecia era esperada no ano de 1887...

Tanta histeria em torno do ano 2012, nos fez esquecer a única e comprovada profecia maia de Fim de Mundo.  A mesma se encontra escrita em um dos livros chamados Chilam Balam. Estes livros foram escritos em língua maia no século XVIII, muito depois da conquista  e levam o nome da cidade onde foram achados.  A referência ao fim do mundo está no livro de Ixil, cidade na península de Yucatán, próxima a Mérida.  

Quando os maias escreveram os Chilam Balam, já tinham assimilado muito da cultura europeia, o que não significa que tivessem perdido a própria. Pelo contrário parece que deram interpretações desde a visão maia às ideias europeias.  Isto converte os Chilam Balam em obras de grande interesse para compreender a cultura maia, segundo a historiadora Laura Caso Barrera que os estudou.   Segundo ela, no texto de Ixil se encontra uma profecia de Fim do Mundo para o ano 1887 de nossa era que é uma re-interpretação maia de um mito babilônico do século III a.C. (vide comentário no fim da seguinte reportagem)

Laura Caso apresenta estas ideias em seu livro Chilam Balam de Ixil que vem  de ser lançado em México. Espero poder lê-lo em breve porque parece fascinante.

lunes, 20 de junio de 2011

2012 e as Profecias Maias

Em 14 de novembro de 2009 anunciei que estava trabalhando num site sobre as profecias do ano 2012. Bom, depois de quase dois anos, o projeto está completo, um web-book que traz informações científicas sobre a atividade solar, o campo magnético terrestre e a Via Láctea para que os leitores possam avaliar por si próprios a improbabilidade de uma catástrofe. Além do mais o site aborda a história e o calendário maias, explicando que é o que podemos afirmar sobre este povo misterioso.

2012: A Hora Última é agora uma realidade. No futuro estarei adicionando funcionalidades para que os leitores possam interagir. Por enquanto o mais importante para mim foi completar a informação que queria apresentar. Peço aos leitores deste blog, que façam ampla divulgação do web-book.

A partir de agora, voltarei a me dedicar um pouco mais a outras profecias de fim de mundo.

sábado, 19 de marzo de 2011

A desgraça do dia 11

Até que as Torres Gémeas de Nova Yorke foram derrubadas num ataque terrorista, o dia do infortúnio era o décimo terceiro de cada mês. Pior em sexta feira. Nunca houve base estatística para apoiar esta afirmação. O novo milênio parece ter inaugurado uma nova tradição: a desgraça ocorre nos dias 11, como com as Torres Gêmeas, que cairam no 11 de setembro há 10 anos. Em 2004, um atentado na estação de trens de Atocha em Madri, aconteceu em 11 de março. O recente terremoto/tsunami no Japão, também foi em 11 de março. Quando três coincidências são encontradas, os temores se desatam.

Tem algo de particular esssa data? Se fosse a vontade humana, como no caso dos atentados, poderia-se suspeitar que sim. Porém, não resulta muito estratégico realizar ataques sempre no mesmo dia, os serviços de inteligência teríam seu trabalho facilitado. E de fato não é assim. O terceiro atentado da série inaugurada em Nova Yorke, aconteceu em Londres, onde um 7 de julho de 2005, foram colocadas bombas em algumas estações do metrô. Outros atentados mundialmente famosos deste milenio, aconteceram na Rússia. Por exemplo, em 23 de outubro de 2002, um grupo armado separatista tchetcheno tomou de reféns a várias centenas de pessoas num teatro de Moscou, mais de um centenar faleceu durante a retomada do prédio. Alguns anos mais tarde, na cidade de Beslan, Ossétia do Norte, outro grupo armado tomou uma escola com todas suas crianças. Novamente, o episódio acabou em tragédia com a morte de mais de 300 pessoas, dentre elas, 184 crianças. E tudo começou em 1ro de setembro de 2004.

É difícil, no entanto, fazer uma lista completa destes eventos para analizar se há evidências estatísticas da pressença de algúm dia especial. Mas, sabendo que as forças da natureza escapam do controle humano, a distribuição dos acontecimentos deveria ressaltar a presença de um dia infausto. Por esse motivo, voltei para a lista de terremotos. Esta vez os obtive do portal do Serviço Norte-americano de Geologia, de uma lista de terremotos escolhidos por seu interesse histórico. Em geral trata-se de tremores de magnitude superior a 6 e que provocaram grandes danos e mortes. A lista começa no ano 856 e inclui o recente terremoto do Japão, para um total de 946 casos, grande o suficiente para que a estatística seja significativa.

Primeiro contabilizei o número de terremotos por dia do mês. Na figura abaixo estão os resultados. No eixo das abscissas (horizontal) o dia do mês (de 1 até 31), no eixo das ordenadas (vertical) a porcentagem de eventos que aconteceram esse dia respeito do total.



Porcentagem de terremotos para cada dia do mês. Lista de terremotos históricos obtida do Serviço Geológico Norte-americano em 19 de março de 2011.

Da figura ve-se que o dia 11 não tem característica particular nenhuma. Na verdade, o "vencedor", com quase o 5% dos casos, é o dia 16. De qualquer maneira, a distribuição por dia do mês parece ser bastante uniforme. Podemos nos perguntar se existe alguma diferença nos meses em que acontecem estes fenômenos. Da mesma lista separei os eventos por mês e o resultado está na figura abaixo.



Porcentagem de terremotos por mes do ano. Lista de terremotos históricos obtida do Serviço Geológico Norte-americano em 19 de março de 2011.

Novamente a figura mostra uma distribução bastante uniforme, com aproximadamente 100/12 = 8,3 % de casos para cada mês. Por último fiz a mesma busca sobre os dias do ano. A resposta continua a ser uma distribuição monotonamente uniforme, como mostrado abaixo.



Distribuição percentual dos terremotos em função do dia do ano. Lista de terremotos históricos obtida do Serviço Geológico Norte-americano em 19 de março de 2011.

A porcentagem esperada é 100/365 = 0.27%, e é o que observamos na figura. Os três dias que se destacam, com cerca de 1% de probabilidades, são o 26 de maio, o 29 de junho e o 7 de outubro. De qualquer forma, não é uma porcentagem muito significativa. E as datas não têm nada a ver com o dia 11.

A impressão de que há dias infaustos baseia-se numa memória breve, numa estatística de poucos casos, e, seguramente, nessa necessidade por achar uma ordem no Universo. Mesmo que essa ordem signifique o nosso Apocalípse.

lunes, 14 de marzo de 2011

Está aumentando a freqüência de terremotos? (Segunda parte)

Buscando na Internet achei o seguinte site: http://www.divulgence.net/global_earthquakes_index.htm. Os autores afirmam que o número de terremtos aumentou drasticamente entre 1973 e 2007. A figura abaixo é cópia da figura dessa página, que mostra o número total de terremotos por ano.






Produzido por http://www.divulgence.net. Acesso em 14 de março de 2011.


O site parece desativado porque o gráfico não foi atualizado nos últimos quatro anos (desde 2007). A partir do que mostrei no post anterior (Está aumentando a freqüência de terremotos?) não consigo ver como chegaram a construir um gráfico semelhante. Mas o interessante é que eles dizem obter os dados do site do Serviço Geológico Americano (USGS). O USGS, na página dedicada a mitos sobre terremotos, diz:
Apesar de que pode parecer que temos mais terremotos agora, o número dos de magnitude 7.0 ou maior permaceu bem constante ao longo deste século e, de acordo com os nossos registros parece estar diminuindo.
(Tradução minha do texto: Earthquake myths, acesso em 14 de março de 2011. O ressaltado é meu também). Na mesma página, um tesouro de outras informações. Mas, em inglês.

Numa outra página (Earthquake facts and statistics graphs), o mesmo serviço mostra um gráfico com os terremotos de magnitude 5,0 ou maior, dos últimos 20 anos que eu copio abaixo.





Copyright US Geological Survey. Acesso em 14 de março de 2011.


A figura, mostra, tal como a que eu mesmo fiz, que o número de terremotos não está aumentando. Eu não consigo ver que esteja diminuindo, mas, eles têm os dados e podem fazer a estatística de forma mais correta.

Em suma, ainda não entendo como o pessoal da divulgence chegou naquela figura.

domingo, 13 de marzo de 2011

Está aumentando a freqüência de terremotos?

Uma nova tragédia sacude a humanidade. Na sexta feira 11 de março, um terremoto de grande magnitude com epicentro próximo da costa leste do Japão, gerou ondas gigantescas (tsunami) que devastaram cidades sobre o mar. Ainda hoje, dois dias depois, não sabemos ao certo o número total de perdas humanas, muito menos o tamanho do dano econômico.

Toda vez que acontece um tremor desta magnitude as pessoas sentem (e a mídia se torna um eco dessas preocupações) que os tremores estão aumentando, que são cada vez mais mortíferos, que talvez sejam um sinal do Fim dos Tempos, que tudo não é mais que um castigo da Mãe Natureza pelos excessos do homem e sua tecnologia. E todas as vezes a resposta dos geofísicos é a mesma: não, os tremores não estão aumentando, nem sequer às vésperas do tão aguardado 2012.

Sem ser um especialista em geofísica, tomei dados de terremotos da Wikipedia (List of 21st-century earthquakes), desde o ano 2000. A lista é claramente incompleta e portanto apenas guardei os tremores de magnitude Richter superior a 7. Com eles fiz um gráfico que mostra a magnitude do terremoto em função do tempo. O resultado, na figura abaixo:




Magnitude dos terremotos (cruzes vermelhas) em função do tempo a partir do ano 2.000. Apenas terremotos de magnitude superior a 7 são mostrados.

Conclusão, não há nenhuma tendência a cambiar a quantidade nem a magnitude dos terremotos. O mais intenso da série (9,1), produziu um tsunami que devastou a Indonesia em 26 de dezembro de 2004. Mas, nem todos os terremotos intensos provocam tantas mortes. Por exemplo, em 15 de agosto de 2007, aconteceu um tremor de magnitude 8,0 no Peru que deixou apenas 513 mortos oficiamente.

Com uma magnitude de 9,5, o maior terremoto registrado com sismógrafo, aconteceu na cidade de Valdívia, no Chile, em 22 de maio de 1960.